Prazeres da Mesa em Recife. Aqui estive novamente.
O calor faz com que nos entreguemos aos momentos de prazer, a esta malemolência, esta preguiça curtida sob os raios de sol. Tudo muito propenso ao deleite e à descontração, mas isto não precisa e nem deve significar esculacho. A gastronomia que vi e provei, comprova isto. Minha mãe é pernambucana, nesta sua terra natal é verão durante praticamente os 365 dias do ano e sempre a vi bem – posta e colocada independentemente da temperatura. E ela sempre encantou meus amigos com suas receitas de memória e tempero registrado na memória afetiva.
Pude confirmar que este é um dom, o tal “gift” que os pernambucanos receberam lá do Divino.
Não há elegância se não estivermos apropriados. Na gastronomia, a começar pelo cardápio adequado. As comidas são mais exóticas, e seus temperos e aromas marcantes e ousados , mas nada de cair no exagero. A simpatia deste povo nos convence que um pouco de manteiga de garrafa ou feijão de corda, não faz mal a ninguém. E a releitura das novas propostas… tão antenadas como se estivéssemos em qualquer outra metrópole do planeta. Lá se fala em siri, mole inclusive, carne de charque e jerimum com o charme e a propriedade que se mencionam iguarias nos idiomas mais associados à boa comida. Non é vero? Oui, ma chérie.
As tais comidas ditas mais indicadas pois você não vai se sentir “pesado” e sem disposição, ali assumem características locais e ao degustar, os ingredientes em si não causam estranheza ou desconfiança. Mas prazer, puro e nativo prazer. Me impressionei com a inventividade dos Chefs locais, e o sempre presente coleguismo e respeito entre os demais vindos do Brasil e do mundo afora é um exemplo a seguir.
Pude estar num restaurante japonês, que existe na casa da família há mais de vinte anos e ouvir do simpático e competente proprietário, causos cheios de conteúdo e vivência. E de quebra, aprendi dicas fundamentais para escolher o melhor peixe, como eles fazem diariamente por lá.Aliás , como se sabe, o leilão de peixes em Tóquio é coisa de gente grande. Orientais espalhando seu conhecimento pelo mundo…
Curtir os bons momentos da vida, respeitando quem está a nossa volta é um delicioso exercício de convivência e quando lembramos que tudo pode ser feito com charme e respeito, nos faz sentir mais capazes para desfrutar muito mais de todas as situações e oportunidades que a vida tem a oferecer. Sempre ouvi de minha mãe que cozinhar, algo que aprendeu desde menina, é abrir o coração e traduzir no paladar. Assim como me ensinou que em sua casa de fazenda na infância em Arcoverde no interior do estado de Pernambuco, meu avô sempre proferiu, parafraseando os portugueses, que à volta da mesa não se envelhece.
Deliciosos arretados estes pernambucanos!